Em depoimento bombástico, William Rogatto assume manipulação no Candangão
William Pereira Rogatto admitiu ter operado não somente no Candangão, mas em todos os estaduais do país. Pediu desculpas à presidente do Santa Maria, clube rebaixado nesta temporada no Cadangão e fez acusações dando nomes a possíveis facilitadores do esquema de corrupção no Brasil. A CPI ofereceu delação premiada à testemunha. O depoente aceitou encontrar-se pessoalmente com representantes da CPI e prometeu mais revelações.
“Eu sou a máquina que está oferecendo dinheiro mais fácil para o atleta e dando dignidade para o cara dar de comer à família dele. Será que eu sou tão errado assim? Fui um dos maiores. Se não o maior, um dos mais organizados. Eu já trabalhei e operei nas 26 unidades da federação e no Distrito Federal. Inclusive, no Distrito, foi onde eu bati de frente com um cara muito forte. Aí, a gente vai naquela luta de poder. Eu perdi e fiquei exposto. O presidente da federação (de Futebol do DF) foi o cara que mais me apoiou em tudo o que eu fiz”, acusou.
Ele acrescentou no depoimento bombástico. “Estou aqui para pedir desculpa para a presidente do Santa Maria e ao marido dela (Erivaldo Alves), que tem um problema de saúde gravíssimo. O Daniel nem teve o composto de entender isso e me fez chegar e aproveitar, porque eles não tinham dinheiro. Eu enganei a presidente (Dayane Nunes). Perdão por ter enganado ela (sic), mas era o meu trabalho. Eu sempre enganei os presidentes. O Daniel me fez chegar nesse clube, que eu fizesse. Facilitou os jogos. Digo os jogos que fiz sem problema com o apoio dele”, detonou William Pereira Rogatto.
O blog entrou em contato com o presidente da FFDF para ouvi-lo sobre as acusações depois das declarações de Rogatto. “Quem ele fala que o apresentou à Dayana? Nunca tive o contato dele. Não sei quem é. Não recebi nem fiz ligação. Podem quebrar o meu sigilo bancário, telefônico… Nunca o vi, defende-se Daniel Vasconcelos. “Como presidente de federação não posso indicar ninguém a clube nenhum. A presidente do Santa Maria (Dayana Nunes) falou a verdade de como foi (no depoimento desta tarde). Ela disse que o treinador (do Santa Maria à época, Christian Ramos) indicou (William Rogatto). Quem tomou todas as providências necessárias para fui eu. Chegou relatório da Sports Radar (empresa de monitoramento de integridade parceira da FFDF). Encaminhei para o Ministério Público do DF e Territórios e para o TJD. Fui ouvido no Gaeco por conta disso tudo. Estou bem tranquilo. Nunca recebi nem fiz ligação para esse cara. Em momento algum nem o citei. Não tenho poder de investigação”, afirmou.
O depoente foi direto ao falar sobre a situação do Candangão. “Hoje, o Candangão tem um dono só, e ele é muito poderoso. Não vou bater de frente com ele. Tem três clubes. Todos os votos são dele. Três clubes já é manipulação. Estou com um time topo aqui e começo com seis pontos. O sistema é muito além do que estamos fazendo aqui”, afirmou Rogatto. “Essa entrevista pode acabar com a minha vida. Não é de agora. Me pegaram em 2020. Tem tanta coisa minha… Estou há 13 anos nisso. O sistema pode acabar comigo, mas não vai acabar”, afirmou. O presidente da FFDF preferiu não comentar. “Quanto às outras acusações, não dizem respeito a mim”.
William Rogatto diz ter rebaixado 42 times e lucrado R$ 300 milhões
Questionado mais de uma vez se manipulou resultados no futebol brasileiro, Rogatto foi curto e grosso: “Procede, estou aberto falando para você. Rebaixei 42 times e sou conhecido como rei do rebaixamento, mas não dá para ganhar dinheiro sem rebaixá-los. Não estou matando ninguém, roubando ninguém, o sistema é falho. Estou indo contra o sistema. A criação da máquina me favoreceu, encontrei a brecha”.
Deflagrada em março do ano passada com apuração do Gaeco, a Operação Fim de Jogo colocou em xeque a integridade do Candangão 2024. William Pereira Rogatto seria o mentor do esquema de manipulação. O Santa Maria seria a fábrica de resultados adulterados na competição. Convidado pelo senado, Rogatto teve o nome mencionado em escândalos na Série A3 do Campeonato Paulista em 2020. No Santa Maria, os jogadores Alexandre Damasceno e Nathan Silva seriam os elos de um suposto esquema implementado por ele.
Pelo menos duas partidas colocaram o Candangão deste ano sob suspeita. Em 3 de fevereiro, o Santa Maria perdeu por 6 x 0 para o Ceilândia na fase classificatória. Quinze dias depois, sofreu 5 x 0 diante do Gama. Na outra ponta do esquema, apostadores souberam antecipadamente dos acertos para a fraude nas respectivas partidas. Um terceiro resultado entrou na pauta: a derrota por 7 x 1 para o Capital.
As investigações encontraram links entre William Pereira Rogatto e a gestão administrativa do Santa Maria. À época, a Justiça expediu ordens de busca, apreensão e prisão preventiva contra Rogatto. À época, ele morava na Europa.
As convocações foram sugeridas pelo senador Romário (PL-RJ), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito. O ex-jogador citou no requerimento trechos da apuração do Ministério Público do DF e Territórios. “Tem operado na clandestinidade como manipulador profissional mediante a cooptação de jogadores, a venda de resultados arranjados e a realização de apostas”, sustenta Romário na petição. “Aparece em interceptações de mensagens, mencionando pagamentos a jogadores aliciados, realizando apostas fraudulentas e conversando com interlocutores sobre os lucros obtidos”, conclui.
A presença de Dayana Nunes foi solicitada pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ). Ele deseja que a dirigente, esposa do ex-presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Erivaldo Alves, se manifeste sobre a suspeita de manipulação no Santa Maria.
Nota da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF)
Em relação às acusações do Sr. William Pereira Rogatto à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado Federal, na tarde desta terça-feira (8), de que o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Daniel Vasconcelos, tenha o assistido nas ações irregulares durante o Candangão 2024, esta entidade declara que:
Daniel Vasconcelos jamais teve o contato e assim, em momento algum manteve ligação com o depoente. A própria presidente da Sociedade Esportiva Santa Maria, clube investigado, Dayana Nunes, revelou que a ponte para as apresentações das partes foi feita pelo seu treinador à época.
Ademais, o presidente Daniel inclusive levou o relatório da Sport Radar, empresa responsável por monitorar possíveis casos de manipulação, ao conhecimento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e ao Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal (TJD-DF), além de depor como colaborador no Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Assim sendo, o presidente da FFDF reitera seu apoio às investigações, estando disponível para quaisquer esclarecimentos seja à CPI do Senado Federal, ou a todos os demais órgãos envolvidos na tentativa de esclarecer e punir os responsáveis pelos crimes de manipulação de jogos no futebol.
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